Depois da aventura a
Norte, Mar Vermelho passou a ser sinónimo de um mundo a descobrir. Durante o
período de descoberta, Hans Hass foi
um nome que se cruzou, e a leitura de “O Demónio do Mar Vermelho” trouxe um
claro fascínio pelo mundo dos tubarões. Durante esta leitura há uma frase que
fica marcada: “... os tubarões são muito
subtis na arte de descobrir o nosso estado de espírito..”
Mais de 60 anos depois,
Hans Hass tem o dom de despertar o
desejo de exploração deste Mar e quando surgiu a possibilidade de realizar a
Rota Sul, longe estávamos de saber que seria o mundo daqueles grandes pelágicos
que iria tornar esta rota tão marcante.
Designada por Simply the Best foi um liveaboard
de 7 dias que, depois de zarpar do porto de Marsa Galib, seguimos para Ras
Shona, Ilhas Brothers ( Big e Little
Brother); Daedalus Reef ; Abu Dabab e terminámos em Elphinstone.
Ras Shona
Inicio da rota, com 3 mergulhos incluindo check dive. Zona de baía abrigada, com fundo de areia e coral duro. Muita
vida macro e uma profundidade máxima
de aproximadamente 20m.
Ilhas Brothers – El Akhawein
Localizadas em mar aberto, a aproximadamente 67km a leste de El
Quseir, ao sul da Peninsula do Sinai, aparecem à superficie os topos destas
duas montanhas do mar.
Big Brother
O seu aspecto rectangular, com aproximadamente 400m de
comprimento e a presença do farol Pedras
Victorian (construido pelos Ingleses em 1880), permite uma rápida
identificação desta ilha.
Big Brother
Estas ilhas são
caracterizadas pela fauna, pelos naufrágios (Aida e Numidia), mas também pela
forte corrente e ondulação.
Iniciámos a nossa exploração
subaquatica com um mergulho na parede nascente e que nos supreendeu: pela
sensação do dropoff , pela fauna e
pelo estado do mar: nem corente nem ondulação. Não dava para acreditar.
Geralmente a falta de corrente também significa menos fauna, mas nem isso se
verificou. Um mergulho tranquilo com um mundo de vida em redor.
Ainda pela manhã foi altura de
visitar um dos naufrágios da ilha - Aida.
Aida tem
aproximadamente 75m de comprimento e foi construido em França, em 1911. Durante
a Segunda Guerra foi inicialmente utilizado como navio de abastecimento,
passando depois a ser comandado pela marinha Egípicia que o utilizou para o
tranporte de tropas. Durante este periodo foi bombardeado, mas depois de
recuperado foi ainda utilizado como navio de suprimentos.
Em Setembro de 1957 , carregado de
mantimentos e de pessoal, que iria render quem estava no farol Big Brother, foi surpreendido pelo mau
tempo acabando por embater nas rochas, iniciando o naufrágio. A tripulação é
salva, mas durante a tempestade o navio acaba por derivar algumas centenas de
metros até ficar preso numa zona bastante inclinada do Recife.
Para uma visita completa ao navio será necessário
adoptar procedimentos de mergulho profundo. Nós optamos por uma exploração
incidente na profundidade dos 33m, pelo que continuamos a usar a mistura
idêntica à das outras imersões – Nitrox 32% o que nos limitou na profundidade,
mas deu-nos a possibilidade de rentabilizar a exploração da área de onde a proa
de desmembrou do restante navio. Esta é uma zona repleta de vida onde Peixes flauta (Fistularia
commersonni)nos acompanham em toda
a visita.
A despedida
à Big Brother é feita com a visita ao segundo naufrágio da ilha – Numídia.
Construído em Glasgow em 1901, Numídia era um navio de
carga com 137m de comprimento que, em Julho de 1901, ao aproximar-se das ilhas
Brothers embate no recife o que provoca o seu naufrágio.
Devido à forte e
constante ondulação, a popa do navio foi destruida, mas desde os cinco até aos
oitenta e cinco metros de profundidade há muito para explorar do que resta
deste navio.
Uma forte
corrente marca o inicio deste mergulho, o que obrigou a um esforço adicional
para chegar à parede do recife. Após alguns minutos, a calma parecia já estar
instalada e estávamos prontos para seguir para o naufrágio, no entanto, bem em
frente ao recife, aparece o primeiro Pontas Brancas Oceanico (Carcharhinus longimanus).
Por muitas descrições que já tenhamos ouvido ou lido , nenhuma delas descreve o
que o primeiro contacto com este animal desencadeia. É,sem duvida, algo dificil
de descrever. Um misto de beleza, esplendor e uma elegante imponência que nos
deixa quase que hipnotizados.
O
naufrágio destaca-se pela forma como o navio acompanha a parede do recife,
sendo a sua exploração tentadora para quem optar e estiver preparado para
mergulho descompressivo. Mais uma vez optámos limitar o nosso mergulho aos 30m,
com a utilização de Nitrox 31% , rentabilizando assim o tempo a esta
profundidade, onde os corais já transformaram o naufrágio num recife onde são
constantes cardumes de Anthias (Pseudanthias squamipinnis), e os Peixes Flauta e Peixes Borboleta voltam a ser companhia. ´
Little Brother
Tal como o nome sugere, é a
mais pequena das ilhas Brothers, tendo um formato semelhante à ilha maior, é possivel a
destinção não só pelo tamanho como pela ausência de farol.
Little Brother
Realizamos três imersões e em todas elas estiveram
presentes as grandes paredes cobertas de Gregónias
gigantes, a passagem de Tubarões de Pontas Brancas (Carcharhinus longimanus), os Napoleões (Cheilinus undulatus), cardumes de
Atuns, enfim, um mundo de vida com sorte extra de tudo ser acompanhado por um
estado de mar raro nestas paragens, em que ondulação e corrente mal se fizeram
sentir.
Daedalus
Reef – Abu el Kizal
Daedalus é um recife de forma circular situado a
sul das ilhas Brothers, numa zona mais central do Mar Vermelho a
aproximadamente 96km Este de Marsa Alam.
O farol existente na
ilha,é habitado e pode ser visitado, sendo uma boa opção para ocupar uma das
pausas entre mergulhos e possibilitar a única vez que se pisa “terra-firme”
durante o liveaboard.
Daedalus Reef
As imersões são conhecidas pela possibilidade de
encontros com os grandes pelágicos e foi na esperança de os encontrar que
fizemos o primeiro mergulho. Um mergulho no azul que, embora não nos tivéssemos
encontrado com nenhum “grande”, ficou marcado pela atração que o azul exerce
sobre nós, em que ausência de pontos de referência nos transmite uma sensação
estranha de vaguear por um “nada” que atrai a cada metro que percorremos.
As quatro imersões que se seguiram fizeram honra ao
grandes pelágicos, tendo os tubarões martelo (Sphyrnidae sphyrna) surpreendido pela quantidade e pela proximidade
do seu nadar.
Tubarão martelo (Sphyrnidae sphyrna)
Fascinam pela sua forma exótica e pela suavidade com
que “deslizam” pela água. Segui-los é sem duvida a tentação.
Mas, tão peculiares criaturas, não foram os únicos a
fascinar. Também por aqui os Pontas Brancas Oceânico fazem a sua visita, desta
vez com maior proximidade e de uma forma que mostrou claramente a imponência
deste animal.
Tubarão
Pontas Brancas Oceanico(Carcharhinus longimanus)
Abu Dabab –
Mergulho nocturno
Depois de longa viagem e já junto à costa foi
realizado o único mergulho nocturno desta viagem. Com uma profundidade máxima
de 13m, foi um mergulho muito tranqüilo que nos deixou aproveitar a beleza de
pequenas formas de vida.
Choco (Sepia officinalis) e coral
Elphinstone
Para muitos um dos melhores mergulhos no Mar Vermelho,
para nós, depois de todos os “encontros” de Daedalus e nas Brothers, foram, sem
dúvida, bons mergulhos mas a esta altura a fasquia já estava muito alta.
Elphinstone é um recife de forma longa com
aproximadamente 300m de comprimento situado perto de Marsa Alam.
Depois de um mergulho na zona Norte, repleto de vida e
em que a quantidade de Anthias
transforma o cenário num agitado movimento de cor,foi tempo de ir em busca do
dugongo e nadar junto das tartarugas gigantes que também se alimentam no
extenso “prado” subaquático.
O dugongo não o vimos, mas o “passeio” com as grandes
tartarugas, foi sem dúvida uma boa forma de terminar esta exploração em águas
do sul do Mar Vermelho, que continuam a ser destino de eleição quando o
objectivo é ter boa visibilidade, temperatura acima dos 25ºC e vida, muita
vida.
Croquis de spots de mergulho – Emperor Divers
Imagens - Disponibilizadas pelas diversas duplas do
liveaboard
Bibliografia consultada
