Do setor Maladeta - Aneto, a
ascensão ao Pico de Alba já há algum tempo que nos tentava, mas umas vezes foi
a meteorologia que nos fez adiar
intenções, outras tinha mesmo sido o problema de o tempo não dar para tudo. Assim,
não adiando mais, decidimos ir em busca daquele topo que, principalmente quando
está nevado, sempre me fez lembrar uma "caravela portuguesa" (Physalia physalis) e que por diversas
vezes tínhamos avistado nas várias aproximações a outros gigantes do maciço.
Este pico foi alcançado pela
primeira vez em 1868 por Henry Russele J. Haurillon e a sua localização e
acessos com as algumas particularidades, faz com que geralmente não faça parte dos cumes mais procurados.
Bem estudados os dois
acessos mais utilizados (pela Reclusa ou pelos Baños del Hospital), decidimos
realizar uma volta circular, com início na Besurta optando pela via da Renclusa
para subida e a dos Baños del Hospital para descida.
Com o fim da temporada alta (
Julho - Setembro) é possível deixar o carro estacionado na Besurta.
Aproveitando essa facilidade, ainda quando o sol não dava indicação de onde viria
a aparecer, demos início ao trilho de acesso ao refugio da Renclusa.
Depois da passagem pelo refugio,
em direção à ermita da Virgem das Neves, seguimos pelo trilho que segue pela
esquerda, denominado por caminho da
torrente de Alba.
Este trilho encontra-se bem
marcado e durante algum tempo subimos junto à corrente de água, podendo
optar-se pela sua margem direita ou esquerda pois ambas nos permitem chegar à
área plana, onde se encontra o ibon
lago de Paderna (2.240m).
A
partir deste ponto dá início o percurso por terreno decomposto, em que o imenso "mar
de pedras" transforma a orientação num verdadeiro desafio. A descoberta de
mariolas é aqui um teste à atenção e para dificultar o desafio, são vários e
diferenciados os trilhos que assinalam. Há portanto que descobrir as mariolas e
em seguida verificar se direcionam para o trilho que pretendemos seguir. A
solução foi mesmo avançar por onde se conseguia melhor passar, mantendo sempre
o sentido da rota a seguir.
Já com o Pico de Paderna à
vista, subimos a encosta junto a um curso de água (torrente de Alba) que, nesta
altura se encontrava praticamente seca. O
curso de água não é seguido até à sua origem, sendo necessário abandoná-lo e
infletir à direita (orientação norte), em direção ao colo que dá acesso à
crista do Pico de Paderna.
No colo é claramente visível
a Tuca Blanca e o seu colo (2789m) assim como extensa aresta que segue até ao
Pico de Alba. Seguimos em direção à aresta e aqui o caminho está bem marcado.
Para
acesso à aresta de Tuca Blanca há que subir por uma das suas chaminés. Ao
chegar a um ultimo ressalto e antes de atravessar uma larga zona de acesso aos
corredores, é possível identificar a chaminé correta através de uma mariola
mais escura que se encontra já na aresta.
Acertar na chaminé exige uma
atenção mais apurada nesta fase do percurso pois o terreno é todo muito idêntico
e veêm-se mariolas um pouco por todo o lado, indicando várias opções de
trajeto, algumas das quais complicando mais do que facilitando o acesso ao
cume, o que poderá dificultar a escolha.
A falha poderá significar subir por áreas demasiado expostas e de terreno muito
descomposto e, eventualmente, convertendo-se em caminhos com acesso demasiado
comprometido para o Alba.
A
subida pela chaminé obriga à utilização do apoio de mãos e o terreno obriga a
um cuidado redobrado a cada passo, pois nada se encontra verdadeiramente
seguro.
Depois do colo, seguimos o
caminho da esquerda que aparece aqui bem marcado. Com a aproximação à aresta que
dará acesso ao ante-cume e cume, o caminho passa a ser, novamente, um
labirinto, sendo a opção mais acertada aquela que melhor andar oferecer e que
de forma mais direta dê acesso ao topo.
Nesta
fase, a meteorologia que, inicialmente se tinha apresentado minimamente estável
e com base na qual optámos por avançar para esta longa travessia de um dia,
traduzia-se agora num enorme teto de nuvens ameaçadoras que teimavam em
instalar-se por volta da cota 3.000,
deixando
já adivinhar um final de ascensão em condições longe do que seria desejável
mas, ainda assim, perfeitamente dentro da margem de segurança que tais atividades
requerem.
E
foi nestas condições que chegámos ao ante-cume, identificado por bandeiras de
orações Budistas.
Do
ante-cume ao cume, há que fazer a travessia de uma zona de aresta de fácil
progressão mas, um pouco exposta... o
que, graças à quase nula visibilidade daquele dia, pouco impressionava.
O
cume, assinalado apenas por uma mariola, promete para os dias de bom tempo,
vistas vertiginosas e um ponto de excelência para todo o Maciço Aneto- Maladeta.
O
vento soprava cada vez mais forte e incómodo e as nuvens não nos deixando apreciar a vista do ponto mais alto, foi tempo
das fotografias possíveis, repor algumas energias e iniciar a descida que
prometia ser longa.
Baixando, pouco mais de 50
metros, a visibilidade melhorou substancialmente e tendo o primeiro ibon (lago) como referencia, a
estratégia foi escolher o melhor sitio por onde descer entre um caos de pedras,
tentando sempre seguir algumas mariolas que dão acesso ao caminho.
Baixando, pouco mais de 50
metros, a visibilidade melhorou substancialmente e tendo o primeiro ibon (lago) como referencia, a
estratégia foi escolher o melhor sitio por onde descer entre um caos de pedras,
tentando sempre seguir algumas mariolas que dão acesso ao caminho.
A partir do terceiro e
último ibon (lago), o caminho é
evidente, sendo que depois da zona de planalto, o caminho continua a ser
evidente, mas muito exposto e decomposto , em pelo menos dois pontos do
percurso, que exigem especial atenção, particularmente se existirem condições
favoráveis à formação de gelo.
Com
os Baños de Benasque já à vista, o trilho de descida desemboca literalmente num dos percursos
do GR11 (Grande Rota Trans-Pirenaica identificada pela tradicional sinalética
branca/vermelha). Esta parte do percurso faz a ligação até ao Hospital de
Benasque. Um trilho agradável, praticamente sem desnível.
Depois
do Hospital, faltava a ultima ligação que nos faria chegar à Besurta, de onde
havíamos partido ainda antes do sol nascer… Aqui, sem grandes alternativas e
dado o adiantado da hora, os últimos metros tiveram mesmo de ser pelo alcatrão.
Jornada longa, mas a valer a pena essa imensa travessia circular.
















